Experimente morar em casa grande. Muitas portas, janelas e cômodos. Se além da morada tem a sorte de ter outros imóveis, um na praia, outro na montanha, a casa da mãe, do irmão, está perdido! Todas essas casas, com suas portas, de entrada, de saída, do portão da rua, da garagem exigem chaves e mais chaves. Ou seja, exigem atenção, cuidado permanente para escolher o chaveiro certo, e não o perder de vista jamais.
A estes molhos de chaves se somam ainda
outras, do escritório, do consultório, da caixa de joias: uma profusão de
chaves de tamanhos, formatos, modelos diversos. Chaves em lindos chaveiros, ou
em chaveiros baratos. Chaves juntadas aleatoriamente por antigos barbantes.
Pequenas, grandes, simples.
Antigas, modernas. A do baú de madeira
maciça do meu avô, que aliás tem quase duzentos anos e chegou no Brasil com a
mudança de meus bisavós, vinda da Itália. É uma peça de museu, pesada,
colonial, e ainda funciona. Esta é inconfundível, fácil de achar. O oposto
daquelas pequenininhas, indistinguíveis, de cadeado.
Nunca acertamos a chave certa na hora de
abrir o cadeado. Tem um no portão lateral, outro na porta de vidro da sala. Um
terceiro na porta de entrada da praia. E nenhum deles parece funcionar.
Permanecem imóveis diante das inúmeras tentativas frustradas, e o pior é a
vergonha que passamos ao entrar em casa com visitas e se perder na hora da
procura da “chave certa”.
Muito chata esta história de ter que
fechar as coisas. Ainda tenho esperanças que um dia possamos viver num lugar em
que tudo possa ficar aberto, inclusive o coração.
Autor: Rafael E. Fosaluza da Silva
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