Tal
como hoje, era meu aniversário. Alguns anos atrás, eu chegava aos meus 11 anos
de idade. Uma semana antes, minha mãe chegara para mim, com ar amoroso, e me
avisou que não poderia fazer nada em meu aniversário.
–
Vou comprar apenas um bolinho, para não passar em branco, e só. Tudo bem?
Concordei com a cabeça num movimento
automático. Mas não acreditei em suas palavras. Sabe-se lá por que, entendi
tudo errado. E vi naquele aviso carinhoso um despiste para uma pretensa festa
surpresa. Fui um “prego”, em resumo.
E todos os dias ela repetia aquela
história. Ansiosa, talvez, que eu compreendesse. Preocupada em me fazer
entender que aquele era um ano atípico. De apertos. E que o aniversário, apesar
de comemorado, não seria da forma sempre macro de anos anteriores
Não adiantava! A cada vez que ela repetia
a história, mais eu montava a partir da minha própria cabeça que uma grande
festa surpresa estava sendo montada. E que tudo aquilo era uma estratégia para
que a surpresa fosse preservada. Minha ansiedade, assim, só aumentava,
independente dos muitos alertas que minha vó insistia em fazer ao longo dos
dias.
Certo da festa, eu bancava o filho
comportado. Aquele que sabe da festa, mas finge não saber. Para não estragar a
surpresa. Não decepcionar a mãe que com tanto esmero se esforçava diariamente
para manter tudo em segredo.
O tempo passava. Chegou meu aniversário.
Fui para a escola. Estava certo que quando chegasse em casa, no retorno,
estariam todos os meus amigos a minha espera. Cheguei. E me surpreendi com a
casa vazia. Apenas minha mãe, meu pai e meus irmãos. Achei estranho.
De
repente, minha mãe fala:
–
Vá tomar um banho, querido. Que depois a gente canta parabéns.
Foi
a senha!
Corri para o banheiro e enquanto tomava
banho pensava que na saída iriam estar todos os amigos, dando enfim início à
festa surpresa. Tomava banho de forma sorridente enquanto imaginava quem
estaria na sala quando saísse.
Terminei o banho, coloquei uma roupa e saí
com sorriso no rosto. E ao chegar na sala, começou-se a cantar parabéns. Minha mãe,
meu pai e meus irmãos. Um bolo de chocolate. Refrigerantes e salgadinhos.
Enfim, a ficha caiu. Minha mãe falara a
verdade a todo o momento. Eu que inventara tudo. Da minha própria mente fértil.
E enquanto cantava-se os parabéns, eu tentava segurar o choro pela festa surpresa
que apenas eu idealizara.
Naquele momento, o mais importante era
não entristecer minha família. Não fazer ela perceber que eu pensara em algo
mais. Mas hoje lembro deste dia e não canso de rir, como a mente de uma criança
é fértil não?
Autor:
Rafael E. Fosaluza da Silva - 16 anos
Obs.
História de um amigo interpretada e contada em primeira pessoa pelo autor.
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