A primeira vez que vi minha sobrinha foi também a primeira vez que ouvi o mundo ficar em silêncio. Simplesmente não existia mais nada além da sua mãozinha fechada e respiração tranquila. Caí num choro sem precedentes.
No ano passado, meu presente de Natal foi a
notícia de que minha cunhada estava grávida e minha primeira sobrinha estava a
caminho. Ao receber a foto do ultrassom, caí num choro que, dessa vez, tinha
aquele único precedente. E não vem com aquele velho papo: “Mas homem não
chora”, que eu te mostro, experimenta ser tio para ver.
Já procurei muitas palavras para
qualificar sobrinhos. Até hoje nenhuma me soou mais adequada do que “tesouro”.
Uma vez me disseram “no dia em que você
for pai que você vai entender o amor de verdade”. Sei lá. Ainda não sou pai, aliás, sou muito
novo para isso. Mas já sei que na arte do amor não existem comparações. Não
amamos mais ou menos, amamos de formas diversas. E é por isso que sei que esse
amor de tio não vai mudar nunca. Porque todo amor é soberano, basta por si.
Há quem diga que ser tio é só delícia.
Brincar sem horário, levar ao cinema, dar presentes sem data. De fato, existe
uma leveza incomparável nessa relação (talvez pelo fato dos sobrinhos poderem,
quase sempre, ser devolvidos aos pais ou avós na hora que a gente cansa). Mas
eu não sei se acho uma missão tão simples assim.
Quem tem tios queridos sabe bem disso.
Criamos em nós mesmos uma louca tentativa de ser para os nossos sobrinhos tudo
o que vemos de bom em cada um dos nossos tios. O carinho de um, o bom humor do
outro, o jeito “porra louca” de um terceiro, o cuidado de um quarto. E, além
disso, tudo o mais que não tivemos deles, mas gostaríamos de dar para os nossos.
Missão impossível, é claro.
Tios querem ser um pouco pais, um pouco
avós, um pouco irmãos, um pouco primos e muito, muito amigos. Ser tio é a
eterna tentativa de ser absolutamente tudo para alguém. Mães querem ser boas
mães, avôs querem ser bons avôs, amigos querem ser bons amigos. Tios querem
cuidar como pais, mimar como avós, ser cúmplices como irmãos, divertidos como
primos, indispensáveis como amigos. No fundo, não acho nada fácil essa história
de ser tia.
Além disso, há aquela eterna corda bamba
para não comprar grandes brigas com os irmãos e os cunhados. Eles sempre se
aborrecem por coisas inofensivas que fazemos como dar Mc Donald’s quando a
criança já tem 3 meses de idade; comprar brinquedos que fazem barulhos
infernais e espirram água a 6 metros de distância, liberar meio pacote de
bolacha Passatempo 10 minutos antes do almoço e, o mais grave, o fato de
começarmos, num dado momento, a guardar segredos.
Mas qualquer embate por causa deles vale a
pena. Não tive dúvidas disso desde a primeira vez em que vi minha pequena, foi
no dia em que ela saiu da maternidade (não consegui aguentar a ansiedade).
Aquele rostinho enrugado que todo bebe tem e a mãozinha tão pequenininha...
E hoje, adolescente, tio e sobrinho ao
mesmo tempo, não penso duas vezes para confirmar que essas relações, de tios e
sobrinhos, sobrinhos e tios, não poderiam mesmo ter outro nome: são,
definitivamente, tesouros que a vida nos deu. Não vejo a hora da pequena Helena
crescer, reconhecer-me e desfrutar de todo o carinho que tenho a destina-la.
Autor: Rafael E. Fosaluza da Silva
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