Dia desses me vieram com um desafio. Me perguntaram: “para você, o que significa ser humano?” Não ‘ser humano’ substantivo, mas ‘ser’ humano verbo. Confesso que foi um questionamento que me fez pensar muito! A resposta poderia ser simples. Acontece que não é. Ao menos, não para mim. Porque ser humano (verbo) é muito complexo. Você não acha?
Se fizermos uma pesquisa rápida,
descobriremos com facilidade um sinônimo para ‘humano’: homo sapiens (do latim,
homem sábio). E, daí, basta ler as primeiras frases de qualquer um dos artigos
apresentados pelo sistema de busca para confirmar que essa ‘pessoa, gente ou
homem’ possui cérebro altamente desenvolvido e é dotada de habilidades que
nenhuma outra espécie possui, como o raciocínio, a resolução de problemas e a
linguagem.
Essa é a definição geral de raça humana.
Mas vamos nos aprofundar um pouco e utilizar este ‘cérebro altamente
desenvolvido’ que nos foi dado para analisar melhor a questão. Ser humano vai
muito além de cérebro. É, na verdade, a combinação do pensamento com o coração.
É o trabalho em equipe entre raciocínio e emoção.
Porém, como vocês sabem, trabalho em
equipe pode ser um mar de rosas – e também um monte de espinhos. O raciocínio
às vezes é durão demais. O coração, por sua vez, mole demais. Pode haver ali um
equilíbrio perfeito ou, por vezes, um desequilíbrio inquestionável,
indiscutível, daqueles de querer pedir o divórcio. Vão por caminhos distintos,
nem sempre rumo a um objetivo comum.
O coração pulsa, incessante, forte,
determinado. Quer viver, se jogar, vivenciar, descobrir – para depois sorrir ou
sofrer, levantar ou cair, aprender ou ensinar (talvez as duas coisas). O
raciocínio de repente segue o fluxo e, logo depois, não quer mais. É bipolar,
cai na real, pensa demais. É sim e não, muitas vezes um talvez. É indeciso. É
um vai-não-vai interminável, uma mistura de medo e excitação, de curiosidade e
receio, de julgamento com livre-arbítrio.
O coração, ahhh! O coração é puro
(im)pulso, enquanto o raciocínio é a rédea – às vezes curta demais. O coração é
a tentação irresistível, enquanto o raciocínio é o limite imposto. O coração é
inocente, bobo, sofredor, enquanto o raciocínio é como a mãe que protege a cria
com unhas e dentes, mas que, também às vezes, falha.
Ser humano é isso. É errar e aprender, às
vezes insistir no erro. É conviver com o sentimento de culpa e também com a
adrenalina por ter arriscado. Ser humano é amar incondicionalmente as pessoas
que amam de volta e também aquelas que não nos enxergam. Ser humano é chorar de
alegria e de tristeza, é ajudar o outro sem pedir nada em troca, é doar um pouco
de si e sugar um pouco do outro. Ser humano é resistir aos impulsos e também
viver somente deles, é fazer burrada e depois acertar, é um carinho, é uma
carta de amor, é não conseguir disfarçar o ciúme, é sentir saudade, é xingar
sem querer, falar sem pensar, desistir querendo seguir. E depois se desculpar.
Ser humano é se decepcionar por criar
expectativas demais, é sentir falta dos que já se foram e daqueles que partiram
em direção a outros rumos, é se doer pelo outro, é cometer crimes ‘por amor’, é
abraçar o egoísmo e depois chutá-lo para longe.
Ser humano é o certo e o errado, o leve e
o pesado, o grave e o agudo, a inocência e a culpa, o julgamento e o perdão.
Ser humano é uma mistura de tudo, uma confusão, um emaranhado de sentimentos. Ser
humano é tropeçar e cair, repetidamente. Também é se reerguer e seguir,
repetidamente. É ir em frente quando te puxam para trás, é insistir quando a
vida dá uma rasteira, é não desistir. É ir além do instinto, é acreditar no
sexto sentido, é cambalear sem cair, é às vezes se jogar sem saber a altura da
queda. Ser humano é querer viver e fumar um cigarro, é apontar o dedo e fazer o
oposto, é dizer que não tem preconceito, ‘mas…’.
Ser humano é, simplesmente, SENTIR.
Sentir com todo o afinco, com toda a vontade. É ir até o fundo e voltar, é
mergulhar no desconhecido e, por lá, descobrir tudo o de mais belo e o de mais
obscuro. É conhecer a si mesmo e às vezes se deparar com um monstro, mesmo que
segundos antes tenha visto um anjo.
Autor: Rafael E. Fosaluza da Silva
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